O filme TERRORISTA acabou de ser selecionado no importante festival de documentários de Bellaria (na riviera romagnola de Fellini), na Itália em competição AnteprimaDoc. São só 15 filmes de média e longametragem. Espero que agora o filme saia definitivamente da Vila Madalena para o mundo. Depois de 9 meses de gestação finalmente poderemos começar a mostrar o trabalho. Fiquei surpreso com o fato da seleção num festival internacional antes mesmo de uma seleção no Brasil, um filme que tem como fulcro central a história do Brasil. A seleção inesperada pode ser talvez um fator de resistência cultural, de advertimento ao perigo das ditaduras e regimes totalitários que se corre a Itália, um efeito de enantiodromia, a lei do equilíbrio dos contrários. Logo agora que na Itália a direita voltou ao poder, e ontem alguns jovens extremistas nazi-fascistas mataram ontem um rapaz de 29 anos porque tinha um semblante esquerdista, ou segundo o relato de amigos e parentes da vítima, porque havia o cabelo preso com um rabo de cavalo.
No início do século 21, o velho fantasma do fascismo ronda de novo a Europa. A partir do que eu vivi e estudei no Brasil ou na Inglaterra no final dos anos 80 e anos 90 dava por descontado que os regimes totalitaristas de extrema direita tinham sido derrotados junto com a sua ideologia já no final da Segunda Guerra Mundial. Na Itália não houve um processo como Nurenberg e quando os americanos liberaram o país, não se preocuparam em deixar em muitos encargos institucionais, que continuassem a serem ocupados pelas mesmas pessoas e grupos que já estavam no poder na época de Mussolini. Isso indiretamente causou com que a ideologia fascista, o xenofobismo, racismo e supressão de direitos civis, o conservatorismo e várias outras coisas que ligadas à cultura totalitarista ainda continuasseme hoje voltam a ser parte integrante, mesmo se ainda latente, da cultura italiana. Junto é claro aos sobreviventes da resistência, dos católicos, dos comunistas, dos regionalistas, em uma heterodoxia muito complexa de grupos e fatores.
E' neste exato momento que o papel da cultura e da informação, em contraposição, se revelam sempre mais importante e necessário. Num mundo de autores interculturais e trabalhos transnacionais a troca de informações entre as culturas, e a multiplicação de pontos de vista proporciona uma visão iluminadora. E um dos agentes mais eficazes da cultura é a própria memória. A memória coletiva contempla o passado mas também contém o presente e até o futuro. A imaginação, a ilusão de algo que está para acontecer ou se transformar em.
Só que nas últimas eleições italianas, como a tendencia européia, com a vitória das direitas na França, Itália, Áustria, Holanda e Dinamarca representa também uma séria ameaça para a manutenção de direitos sociais e trabalhistas. Além de representar uma luta contra a cultura, especialmente no país onde o primeiro ministro tem 3 emissoras de TV. Mas alguma coisa se rompeu definitivamente depois que o centro esquerda perdeu as últimas eleições. Talvez a credibilidade na própria política, nas instituições de um modo geral. Até agora ninguém pode entender as futuras conseqüências. Não quero fazer um discurso político mas artistico, humano e estético mas é inevitavel não ser politico se se faz uma critica social, humana ética e estética. Estou querendo entender.
Bem escrevo pela primeira vez neste blog porque queria tentar fazer deste um ponto vivo, de discussão e idéias, onde poderemos abordar alguns temas universais visando, quem sabe, conseguir observar e entender um pouco mais a vida e história que fazem todos os dias os homens deste estranho planeta.